Tempestades matam piloto voando baixo

Voar baixo para ficar sob uma camada de nuvens de baixa altura é um negócio perigoso, porquanto a elevação do terreno e a presença de obstáculos tem vitimado muitos pilotos voando na chamada “skud-running”(*). Adicione a essa mistura as turbulentas correntes descendentes de uma tempestade em evolução, e o desastre é certo.

Em 24/08/2006, um piloto de um Piper PA-28-140 Cherokee, sem habilitação IFR, voou baixo sobre os pântanos do leste de Dakota do Norte enquanto as condições meteorológicas se deterioravam em volta. Ele conseguiu evitar os obstáculos e o terreno em seu caminho, mas, eventualmente, entrou em uma área de precipitação pesada associada a uma tempestade em desenvolvimento. O piloto morreu quando perdeu o controle da aeronave e mergulhou no terreno pantanoso.

O piloto do Cherokee pretendia voar do Aeroporto Municipal de Bismarck, N.D., para o Aeroporto Municipal de Fergus Falls, Minn. Eram previstas condições IMC e tempestades esparsas ao longo da rota de 190 milhas. Entretanto, o piloto, habilitado a voar somente VFR, não acessou qualquer serviço de briefing meteorológico antes ou durante o voo. Também não foi submetido o plano de voo.

O piloto contatou o controle de terra de Bismarck às 11h20 e pediu autorização para decolagem rumo ao leste, tendo sido liberado para taxiar para a Pista 13. Naquele horário, o serviço meteorológico automatizado do aeroporto informava céu encoberto, teto de 1000 pés, e uma tempestade se aproximando do norte.

Às 11h23, o piloto do Cherokee foi liberado para decolagem e instruído a manter a rota para Fergus Falls. Três minutos após a partida, o piloto confirmou a autorização para mudar a frequência do rádio. Nenhuma outra comunicação foi recebida da aeronave.

Na hora que se seguiu, o Cherokee prosseguiu na proa este-sudeste enquanto as condições meteorológicas se deterioravam. Chuva e neblina reduziram a visibilidade para cinco milhas, e o teto diminuiu para 500 pés. A temperatura e o ponto de orvalho estavam convergindo. Ao passo que as condições pioravam, o avião voava cada vez mais baixo, cruzando a uma altura de meros 200 pés.

Às 12h32, dados de radar mostravam a aeronave aproximadamente três a cinco milhas a noroeste de uma tempestade nível 3. Os dados indicavam que uma célula convectiva estava produzindo turbulência moderada, mas intensificando-se em sua força. Com o piloto lutando para manter o controle, o Cherokee continuou diretamente rumo à tempestade por uma milha e meia, até sumir do radar.

Seis semanas se passaram até que os destroços fossem descobertos em um pântano encharcado pelas chuvas 10 milhas a noroeste de Kulm, N.D. O NTSB concluiu que a causa provável do acidente foi a continuação de um voo em condições IMC por um piloto não capacitado a voar por instrumentos, o que resultou no encontro inadvertido com uma tempestade e a consequente perda de controle da aeronave.

Tempestades pesadas produzem turbulências fortes, relâmpagos, granizo e rajadas de ventos de superfície. Podem também causar potentes correntes descendentes e perigosas tesouras de vento verticais e horizontais. Uma aeronave voando a 200 pés de altura – como o Cherokee acidentado voava – pode ser facilmente atirada contra o solo se encontrar fortes correntes descendentes ou tesouras de vento que lhe subtraia a velocidade em relação ao ar. Certamente, mesmo turbulências moderadas podem provar-se mortais ao reduzir as margens de segurança.

Esse acidente também ilustra a importância do preenchimento do plano de voo VFR. Os destroços deste desastre, que ocorreu em agosto, não foram encontrados até outubro, em parte porque as equipes de busca não tinham certeza onde procurar. O preenchimento e a ativação de um plano de voo VFR assegura uma busca e salvamento em tempo hábil. Se você ficar preso nos destroços de um avião acidentado – ou mesmo isolado em uma área remota sem sinal de celular após um pouso de emergência – uma rápida e precisa busca pode fazer toda a diferença.

Texto original: http://www.aopa.org/asf/epilot_acc/chi06fa275.html

(*) O termo em língua inglesa "skud-running" significa, na aviação geral, voar baixo para ficar sob as camadas de nuvens de baixa altura.

Obs: no link acima pode ser vista também uma animação do acidente feita com o uso do MS Flight Simulator.

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