Fim violento em uma tempestade

As temperaturas menos frias da primavera é um convite para muitos pilotos voltarem aos céus, mas elas também fornecem um ingrediente chave na formação de um dos mais violentos assassinos da aviação – a tempestade. Os pilotos mais sábios respeitam essas bestialidades convectivas e procuram manter uma boa distância delas. Mas outros escolhem flertar com elas, ao invés de contorná-las, e este jogo perigoso pode ter consequências catastróficas.

Em 25/6/2006, o piloto de um Piper PA-34 Seneca tentou voar através uma linha de atividade convectiva sobre Tafton, Pa. A turbulência extrema de uma tempestade em desenvolvimento quebrou a aeronave em pedaços, matando o piloto e seus dois passageiros. Testemunhas afirmaram que pedaços do avião desintegrado caíram até 10 minutos depois do encontro fatal. Diversos pedaços grandes da aeronave nunca foram encontrados.

O piloto de 1.700 horas, habilitado IFR, decolou do Aeroporto Internacional Piedmont Triad, em Greensboro, N.C., com destino ao Aeroporto Regional de Stanford, Maine. Antes de partir, ele recebeu um briefing meteorológico da Estação de Serviço de Voo Automatizada de Releigh. O piloto e o meteorologista discutiram a atividade de tempestades ao longo da rota do voo, e o piloto submeteu, em seguida, um plano de voo IFR.

As duas primeiras horas de voo transcorreram normalmente. Por volta das 12h30, sobre a Pensilvânia, o piloto contatou o controle de tráfego de Wilkes-Barre de uma altitude de 7.000 pés. Quatro minutos depois, o ATC lhe informou sobre uma área com mau tempo, localizada 6 milhas à frente da posição do avião. O controlador perguntou se o piloto tinha disponível um radar meteorológico. O piloto respondeu que tinha um GPS portátil com radar meteorológico, e que o equipamento estava mostrando mau tempo na sua posição de uma hora. Pouco depois, o piloto perguntou ao ATC se ele podia voar direto para o VOR de Kingston. Essa foi a última chamada de rádio do piloto.

Dados de radar indicaram que o avião desceu perto de 2.000 pés nos 40 segundos finais de voo. O último alvo de radar do Seneca foi observado a uma altitude de 5.300 pés, o qual, provavelmente, foi o ponto de desintegração da aeronave. Uma testemunha próxima ao acidente disse ter ouvido o barulho de um motor acelerando e desacelerando, seguido de um estalo abafado e, então, silêncio.

Testemunhas relataram terem visto pedaços da aeronave caindo do céu. Uma delas declarou que os pedaços pequenos caíram por um período de 5 a 10 minutos. O NTSB concluiu que o acidente resultou do encontro inadvertido com uma tempestade, o que levou à perda do controle da aeronave e a subsequente quebra em voo.

Qualquer descrição da força destrutiva das tempestades nunca é exagerada. Além de chuvas extremamente pesadas, elas podem conter fortes tesouras de vento, granizo de grande tamanho e turbulência severa, sendo que cada um desses elementos pode danificar ou destruir uma aeronave. E esses fenômenos não ocorrem apenas dentro da própria tempestade. De acordo com o Aeronatical Information Manual, “a nuvem visível de uma tempestade é apenas uma parte de um sistema turbulento cujas ascendentes e descendentes normalmente se estendem além dessa nuvem. Turbulência severa pode ocorrer a uma distância de até 20 milhas de uma tempestade severa”.

Displays meteorológicos a bordo são ferramentas de segurança de grande valor para o piloto, mas devemos ter em conta a limitação desses dispositivos. De acordo com o fabricante, o GPS montado no manche do avião acidentado recebia imagens de radar Nexrad atualizadas aproximadamente a cada cinco minutos. Muita coisa pode acontecer em cinco minutos quando lidamos com tempestades em rápida formação, movendo-se velozmente.

Além disso, as imagens de radar mostram apenas as áreas de precipitação, não as de turbulência. Ao tentar “passar pelo buraco da agulha” entre as manchas de brilhante colorido em um mapa em movimento, o piloto pode ser lavado para ares violentamente agitados. Além de manter uma distância de 20 milhas de uma célula convectiva, o AIM recomenda a completa circunavegação de qualquer área que contenha mais que 50% de cobertura de tempestades. Se o desvio da área é impraticável, é melhor pousar em um aeroporto próximo e estaquear o avião. Tome um copo de café e espere. Os dramáticos fogos de artifício da natureza são melhores apreciados com o avião em segurança no solo.

Texto original: http://www.aopa.org/asf/epilot_acc/nyc06fa155.html

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