VFR em IMC: teimosia fatal

Infelizmente, muitos pilotos VFR mergulham em condições meteorológicas de instrumentos apesar do perigo óbvio. Eles criam uma expectativa de que tudo vai dar certo – uma visão em túnel que os cega para as condições que se deterioram em sua volta.

Em 2/1/2006, um Beech Debonair colidiu com o solo cerca de 10 milhas náuticas ao norte de Herber City, Utah, matando o piloto comercial não habilitado IFR. O piloto tinha submetido um plano de voo VFR de Billings, Mont. até Spanish Fork, Utah, uma viagem de cerca de 400 mn através de um terreno montanhoso.

Embora prevalecessem condições meteorológicas visuais na partida em Billings, um sistema de tempestades se movia para a região norte de Utah. Antes da partida, um meteorologista do serviço de voo avisou o piloto que não era recomendado um voo VFR por aquela área. O piloto respondeu que ele poderia “ir até lá perto e então dar uma olhada.”

O piloto partiu de Billings pouco depois das 9h00 e solicitou o serviço de acompanhamento VFR a uma altitude de 9.500 pés. Durante o voo, o controlador do Centro de Salt Lake o avisou duas vezes sobre a deterioração das condições meteorológicas à sua frente. O piloto confirmou o recebimento dos avisos, mas informou que ainda estava em condições de VFR e que continuaria.

Às 11h51, o radar indicou que o piloto havia descido para 8.000 pés de altitude. Ele relatou que estava sobre Evanston, Wyo., seguindo a rodovia I-80 para o sul, e que faria uma meia vota e pousaria se as condições continuassem a deteriorar. Quinze minutos depois, foi perdido o contato de radar e por rádio devido ao terreno, enquanto o avião descia para 7.100 pés sobre Wahsatch, Utah (a altitude de Wahsatch é 6.742 pés).

Por volta das 12h15, uma testemunha observou a aeronave voando para o sul sobre a I-80 através de Coalville, Utah, localizada cerca de 16 mn ao norte do local do acidente. A testemunha, um piloto privado, afirmou que o teto era de cerca de 500 pés de altura e que estava caindo uma neve fina e granizo. Ele calculou que o avião estava voando a cerca de 300 pés de altura.

Dez minutos depois, outra testemunha observou uma aeronave voando baixo em direção ao sul sobre a rodovia. A testemunha relatou que “estava nevando muito e a visibilidade era pouca”. Às 12h29, um retorno de radar do avião foi gravado. Este retorno final localizou a aeronave cerca de meia milha ao norte do local do acidente, a uma altitude de 7.000 pés.

O avião colidiu com o terreno pouco depois, em uma elevação de 6.933 pés. O piloto aparentemente tinha feito uma curva de 180 graus numa tentativa de escapar das condições meteorológicas de instrumentos (IMC). Os destroços estavam em direção ao norte, com uma marca no solo indicando o ponto do impacto inicial cerca de 30 metros ao sul.

O NTSB concluiu que a causa provável do acidente foi a continuação do voo VFR em condições IMC e a subsequente falha do piloto em manter separação do terreno enquanto manobrava. Os fatores contribuintes foram o teto baixo, a neve e o terreno montanhoso.

O piloto deste acidente parecia obcecado em alcançar seu destino. Ele ignorou diversos avisos sobre o tempo à sua frente, voou perigosamente baixo quando o teto diminuiu, e esperou demais para botar em prática o plano alternativo. Quando ele finalmente tentou voltar, era tarde demais.

Para pilotos VFR, a lição deste acidente é clara: não voe rumo a uma situação impossível. Não se meta com IMC, não importa o quanto perto você está do seu destino, nem o quanto familiar lhe é a rota. Os resultados são quase sempre fatais. Quando as condições meteorológicas se deterioram abaixo dos mínimos de segurança, faça um 180 em tempo – e viva para voar outro dia.

Texto original: http://www.aopa.org/asf/epilot_acc/sea06fa036.html

Obs: a AOPA publicou também um estudo de caso deste acidente (http://flash.aopa.org/asf/acs_vfrimc/) onde é mostrada uma animação gráfica com narração do acontecido, inclusive com as gravações das comunicações entre o piloto e o controle.

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