Acidente em elevada altitude-densidade

Durante os dias quentes do verão, a elevada altitude-densidade pode roubar de uma aeronave a sustentação, tração e desempenho do motor. Adicione a tudo isso excesso de peso, terreno ascendente após a cabeceira e ventos erráticos na decolagem, e a tragédia se torna então inevitável.

Em 30/8/2007, um sobrecarregado Beech A36 Bonanza se deparou com uma repentina mudança no vento pouco após a decolagem no Aeroparque de Cameron, Ca. A aeronave perdeu sustentação, retornou ao terreno em elevação e pilonou violentamente depois de atingir um pequeno monte. O piloto com 2.000 horas de voo e um passageiro do banco da frente ficaram gravemente feridos. Os dois passageiros do banco de trás morreram. A decolagem e o acidente foram filmados por uma equipe de televisão.

Por volta do meio-dia, pouco antes da decolagem, a temperatura tinha atingido 35ºC no aeroporto. A altitude-densidade foi calculada em 4.125 pés msl – cerca de 3.000 pés mais alto que a elevação do aeródromo. O piloto declarou que “mentalmente” calculou o peso e o balanceamento depois de encher os tanques de combustível. Ele disse também que já havia anteriormente feito cálculos de decolagem com subida sobre obstáculos para o aeroporto em condições similares de tempo quente.

Após um aquecimento normal do motor, a aeronave taxiou até a pista 31 e iniciou a corrida de decolagem. O Bonanza correu por cerca de dois terços da pista de 1230 metros até decolar. A aeronave subiu 40 pés e caranguejou para a esquerda. As asas então balançaram e o avião afundou de volta ao solo. Depois de escorregar por cerca de 75 metros sobre o terreno em elevação, o Bonanza resvalou em um monte e pilonou abruptamente, parando invertido a cerca de 210 metros do final da pista.

Os investigadores do acidente concluíram que a aeronave estava pesando aproximadamente 1.860 kg na decolagem, perto de 45 kg acima do peso máximo bruto do Bonanza. O exame do vídeo do acidente também demonstrou padrões variáveis de vento no aeroporto, o qual é cercado por construções e fica localizado em uma depressão geográfica. Durante a corrida de decolagem, a biruta à meia-pista mostra-se arriada. No final da pista de decolagem, entretanto, pode ser vista a folhagem das árvores indicando uma brisa moderada. De acordo com os cálculos, o piloto provavelmente encontrou um repentino vento de través de 10 nós pela esquerda, possivelmente com uma componente de cauda.

O NTSB concluiu que o súbito encontro do Bonanza com uma mudança de vento durante o início da subida na decolagem resultou em desempenho degradado e uma condição de estol/afundamento. Os fatores contribuintes para o acidente foram o sobrepeso do avião, a elevada altitude-densidade, a inabilidade do piloto em compensar a brusca mudança do vento, e o terreno em elevação no caminho da decolagem.

Durante o planejamento pré-voo é importante lembrar que a elevada altitude-densidade não apenas aumenta a necessidade de mais pista, mas também pode ter efeito dramático na razão de subida. Para piorar as coisas, a velocidade aerodinâmica aumenta com a altitude-densidade (em relação à velocidade indicada), o que significa que a velocidade do avião em relação ao solo será maior do que a de costume. Em conjunto, esses fatores podem tornar extremamente difícil sobrepor obstáculos ou terreno em elevação que, em circunstâncias normais, não apresentariam problemas. Ventos de través imprevisíveis são uma preocupação adicional, por degradar o desempenho em subida e diminuir a estabilidade da aeronave, que pode já estar à beira de um estol.

Quando a elevada altitude-densidade for um fator, considere as seguintes dicas de segurança:
  • voe no final da tarde ou no início da manhã, quando as temperaturas são mais baixas e os ventos mais calmos;
  • procure saber se a sua aeronave sobe mais eficientemente com o primeiro dente de flap. Muitos aviões sim, mas, para alguns, um dente de flap pode adicionar mais arrasto que sustentação;
  • assegure-se que o peso da aeronave esteja abaixo de 90% do peso máximo bruto;
  • reduza o peso da aeronave, levando menos combustível e voando pernas mais curtas (garantindo pelo menos uma hora de reserva em cada parada);
  • atinja 80% da velocidade de decolagem até o meio da pista; senão, aborte.

Texto original: http://www.aopa.org/asf/epilot_acc/lax07fa258.html

Obs: no link acima pode ser visto também o vídeo do acidente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário