Pressão mortal

Embora o uso de uma aeronave da aviação geral possa ser uma ótima ferramenta de negócios, não ter um plano B pode ser mortal. As limitações do piloto e da aeronave devem ser levadas em consideração quando estivermos planejando uma viagem de negócios, e devem ter prioridade sobre a pressão para chegarmos a tempo para um compromisso.

Em 23/01/2009, pouco antes das 7h00, um Cessna 205 partiu de Flagstaff, AZ, levando dois homens para uma reunião de negócios em Yuma. A reunião estava sendo preparada há um ano, sendo que o proprietário da aeronave – o piloto do voo – tinha dito à sua esposa que aquele compromisso era importante para a sua empresa, a qual tinha sido atingida pela crise econômica. Ele tinha um certificado de piloto privado, tendo declarado 1.550 horas de voo em seu mais recente exame médico, mas não tinha habilitação IFR.

O passageiro no banco direito era também piloto, tendo habilitação IFR e 2.500 horas de experiência. Entretanto, aparentemente ele raramente voava por instrumentos. Sua mulher disse aos investigadores que “ele não gostava de realizar esse tipo de operação”.

Na noite anterior ao voo, o piloto obteve um briefing prévio da Estação de Serviço Automático de Voo de Prescott. Ele disse que planejava voar VFR a 8.500 pés de altitude, apesar de o valor de elevação máxima era 8.900 pés, ou mais, ao longo da primeira parte da rota. O responsável pelo briefing avisou-lhe que o teto previsto para a manhã era de 1.000 pés, com céu encoberto e duas milhas de visibilidade devido à chuva e nevoeiro, havendo possibilidade de neve e precipitação mista ao longo da rota. Aquela deveria ser uma boa hora para reconsiderar o voo.

O piloto chamou o serviço novamente às 6h11, 30 minutos antes da hora planejada de partida, tendo-lhe sido informado que o voo VFR não era recomendado. Um sistema de baixa pressão estava trazendo umidade para a área. Flagstaff reportava teto de 1.300 pés, com céu nublado, e 1.800 pés, com céu encoberto, embora a visibilidade embaixo fosse de 10 milhas. Um airmet para condições IFR e obscurecimento de montanha estava em efeito de Flagstaff até Prescott, sendo que o responsável pelo briefing perguntou se eles poderiam voar IFR em vez de VFR. O piloto respondeu que eles poderiam terminar submetendo um plano IFR, se tivessem que fazê-lo.

Mas eles não o submeteram. O copiloto de um voo de partida da Horizon Air viu um monomotor Cessna decolar da pista 21. Ele disse aos investigadores que estava surpreso que alguém pudesse partir em voo VFR. O avião da Horizon entrou no céu encoberto a mil pés de altura e se manteve dentro das nuvens com turbulência leve e formação leve de gelo escarcha em toda rota até Prescott.

O Cessna voou para o sul, aparentemente seguindo a Interestadual 17, em direção a Phoenix. A aeronave voo por cerca de 10 milhas, até colidir com a encosta de um morro. Ele entrou nas árvores a 130 nós e atingiu o solo sem a asa direita, matando ambos os pilotos. A elevação do local do acidente era de 6.850 pés msl – apenas 130 pés acima da estrada.

A pressão auto-imposta para realizar uma viagem, não importa por qual razão, mata dezenas de aviadores e seus passageiros todos os anos. Se uma viagem é suficientemente importante para justificar arriscar a sua vida, certamente valerá a pena investir em um plano alternativo. Você não chegará a tempo se nunca chegar.

Texto original: http://www.aopa.org/asf/epilot_acc/wpr09fa096.html