Colisão de um Skylane com torre de rádio

A operação no circuito de tráfego é a fase do voo que está entre as que mais demandam trabalho. Comunicar e acatar as instruções do ATC, completar checklists, configurar a aeronave para pouso, verificar a presença de tráfego - todas essas tarefas competem pela atenção do piloto no circuito. No meio da agitação, pode-se tornar fácil esquecer que nem todos os perigos de colisão tem asas. Torres e outras obstruções podem se elevar muitas centenas de pés no ar – colocando-se perigosamente perto de aviões operando abaixo da altura do circuito de tráfego. Adicione a essa mistura o ofuscamento do sol e um altímetro ajustado incorretamente, e a tragédia se torna iminente.

Em 19/12/2004, um Cessna 182P Skylane colidiu com uma torre de transmissão de rádio enquanto se aproximava do Aeroporto Municipal de Fullerton, Calif. A força do impacto arrancou uma das asas e deformou a outra, liberando combustível que jorrou como uma bola de fogo 750 pés acima do solo. O piloto e o passageiro morreram.

O Skylane partiu do Aeroporto de El Monte, Calif. às 9h15. O piloto planejava pousar em Fullerton, pegar dois outros passageiros, e seguir viagem para Catalina, Calif. Aproximadamente 30 minutos depois de decolar de El Monte, o piloto contatou a torre de Fullerton, relatou sua posição a noroeste do aeroporto, e indicou ter tomado conhecimento da informação atualizada do ATIS. O controlador da torre liberou a aeronave para a aproximação para a Pista 06 pela base à esquerda. Quando o Skylane estava a cerca de 3 milhas do aeroporto, o ATC liberou o avião para o pouso.

Testemunhas no solo relataram que a aeronave estava voando rumo sudeste, asas niveladas, com o motor aparentemente funcionando antes do impacto. Um motorista na Rodovia Interestadual 5 próxima ao local viu o avião convergindo para a torre de radiodifusão da KFI-AM, de 760 pés de altura, e disse a um passageiro no veículo “Se aquele avião não fizer uma curva radical ele atingirá a...” – uma forte explosão interrompeu a frase. De acordo com o relatório do NTSB, a aeronave atingiu a torre 10 a 15 pés abaixo do seu topo e transformou-se em uma bola de fogo. A torre caiu em seguida, com pedaços do Skylane incendiado ainda presos na sua estrutura de aço.

Os motoristas que testemunharam o acidente mencionaram que o brilho do sol estava particularmente forte naquela manhã. O céu estava claro, com visibilidade ilimitada e o sol de inverno estava ainda relativamente baixo (27 graus acima do horizonte) no sudeste – a direção de voo do Skylane no momento do impacto.

O NTSB também concluiu que o altímetro do avião não havia sido ajustado para o QNH local. Ele estava ajustado para 30,23 polegadas de mercúrio, que era a pressão reportada no aeroporto de partida. O ATIS do Aeroporto de Fullerton (que o piloto declarou ter recebido) indicava um ajuste de altímetro de 30,18 polegadas de mercúrio. A diferença de 0,05 polegadas de mercúrio fez com que o instrumento mostrasse uma altitude 50 pés acima daquela em que a aeronave estava voando. Se ela estivesse voando 50 pés acima, ela teria superado o topo da torre.

Os examinadores do NTSB concluíram que a provável causa do acidente foi a inadequada observação exterior feita pelo piloto, e a sua falha em manter separação vertical da torre de transmissão quando se encontrava na perna base estendida do circuito de tráfego. Um fator no acidente foi o ofuscamento provocado pelo sol.

Na data do acidente, a edição atualizada do Airport/Facility Directory indicava que uma torre, alcançando a altitude de 819 pés acima do nível do mar, se encontrava localizada a 2 milhas a oeste-noroeste do Aeroporto de Fullerton. O obstáculo era também mostrado na Carta Terminal VFR da área de Los Angeles, indicando a sua altura e a sua altitude. A altitude do circuito de tráfego do Aeroporto de Fullerton é 1.100 pés (1.004 pés de altura).

Nesta época de tecnologia GPS e aviônicos glass-cockpit, cartas em papel e o velho Airport/Facility Directory podem parecer relíquias de uma era passada. Mas esses recursos ainda contêm valiosas informações que podem não estar disponíveis em outras fontes. É importantíssimo que conheçamos o ambiente em que estamos voando, principalmente nas vizinhanças de um aeroporto, quando a aeronave voa baixo e são muitos os fatores de desvio de atenção. Uma vez que saibamos exatamente onde estão os obstáculos e o quanto alto eles são, um ajuste preciso do altímetro permite que fiquemos acima deles, mesmo com o ofuscamento do sol nascente.

Texto original: http://www.aopa.org/asf/epilot_acc/lax05fa054.html

Nenhum comentário:

Postar um comentário