Distração na decolagem sela a sorte de um Citation

As distrações – aqui entendidas como qualquer coisa que desvia a nossa atenção – fazem parte do nosso dia a dia. Elas surgem inesperadamente. Normalmente, nós paramos aquilo que estamos fazendo, cuidamos delas, e então retomamos a atividade que foi interrompida. Essa abordagem funciona relativamente bem – a menos que estejamos pilotando uma aeronave. Uma pequena distração em voo pode rapidamente levar ao desastre se o piloto esquecer o primeiro mandamento da aviação: Voe o avião.

Em 12/1/2007, um Cessna 525 CitationJet caiu logo após ter decolado do Aeroporto de Van Nuys, Calif. O co-piloto tinha esquecido de trancar a porta do compartimento de bagagem frontal esquerdo, que se abriu no momento em que o avião deixou a pista, desviando a atenção do piloto – um PC com 38.000 horas de voo – durante a subida inicial. A aeronave estolou e caiu em parafuso contra o solo. Ambos os pilotos morreram.

O voo de traslado local tinha como destino Long Beach, Calif. Antes da partida, um funcionário do pátio abasteceu o CitationJet e conversou com o co-piloto, que estava colocando diversas malas no compartimento de bagagem frontal esquerdo. O funcionário disse mais tarde que ele viu o co-piloto fechar a porta do bagageiro, mas não o viu travá-la ou trancá-la.

Às 11h07 o avião foi autorizado a decolar na pista 34L. Logo após deixar o solo, um dos pilotos chamou a torre e requisitou um retorno para pouso no aeroporto. O controlador da torre liberou a aeronave para pousar em qualquer pista. Testemunhas relataram que o avião estava voando devagar e que suas asas começaram a balançar. O CitationJet virou levemente para a esquerda, então guinou bruscamente para a direita e caiu, transformando-se numa bola de fogo.

As testemunhas que viram a aeronave próxima à metade da pista disseram que a porta do bagageiro frontal esquerdo ainda estava fechada durante a corrida de decolagem. Outros que estavam perto do final da pista de 2400 metros de extensão afirmaram que a porta do bagageiro estava aberta, toda para cima, quando a aeronave estava a uma altura de 200 pés. Quando aquela porta foi encontrada nos destroços, a fechadura estava na posição horizontal (destrancada).

Algumas testemunhas pensaram ter visto objetos escuros cair do avião e entrar em uma das turbinas. Mas nada foi encontrado no solo entre a pista e o local do acidente. Quando os investigadores do NTSB examinaram os motores, encontraram pás da turbina direita descoloridas próximo ao seu eixo central, e uma página do manual Jeppesen saindo do seu estator. Entretanto, a equipe concluiu que nenhuma turbina sofreu dano por ingestão de objetos que pudessem prejudicar a sua operação normal.

O NTSB concluiu que o acidente resultou da falha do piloto em manter velocidade suficiente durante a subida inicial, causando o estol inadvertido e o parafuso. A inadequada checagem pré-voo feita pelo co-piloto, e a sua falha em fechar adequadamente o compartimento de bagagem frontal, foram citados como fatores contribuintes que permitiram que a porta abrisse em voo, distraindo o piloto.

A distração pode ter ocorrido duas vezes nesse acidente. De acordo com o funcionário do pátio, o co-piloto se envolveu em uma conversa enquanto armazenava as bagagens no CitatitionJet. Por não estar concentrado no trabalho que estava fazendo, o co-piloto pode ter facilmente esquecido de travar e trancar a porta do compartimento de bagagem. Quando preparamos um avião para o voo, é importante não deixar nossa atenção ser desviada. Conversas com passageiros e outras pessoas pode nos induzir a deixar passar pequenas coisas no check pré-voo – pequenas coisas que podem se transformar em grandes problemas no ar.

A maioria dos pilotos já encontrou, ou encontrará, coisas que desviem sua atenção em voo. Sinais que piscam. Portas que se destravam. O importante é o piloto não deixar-se afetar. Acima de tudo, mantenha a concentração e o controle da aeronave. A maioria dos pequenos incidentes podem ser resolvidos em voo. Alguns requerem o retorno ao aeroporto. Bem poucos constituem verdadeiras emergências – a menos que permitamos que se tornem tal. O velho mantra pode soar rudimentar, ou mesmo um clichê, mas, diante de uma distração, pode ser um salva-vidas: Voe o avião.

Texto original: http://www.aopa.org/asf/epilot_acc/lax07ma069.html

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