Pouso atrapalhado transforma-se em um inferno

Voar próximo ao solo deixa pouca margem para erro, sendo essa uma das razões porque mais acidentes da aviação geral ocorrem durante o pouso do que em qualquer outra fase do voo. Enquanto esses acidentes tipicamente não são fatais, o potencial para o desastre está sempre presente. Aproximar alto e veloz com os aviões lisos e rápidos pode não ser um problema quando temos uma milha de pista à frente. Mas se essa extensão for reduzida à metade – em uma pista encravada no topo de uma montanha – a margem de erro torna-se tão estreita quanto o fio de uma navalha.

Em 26/5/2007, um Columbia 350 (agora Cessna) se acidentou durante uma aterrissagem abortada no Aeroporto Mountain Air, em Burnsville, N.C. Depois de se aproximar alto e veloz da pista de 840 metros, o avião quicou diversas vezes e guinou rumo uma fila de aviões estacionados. O impacto iniciou um incêndio que consumiu três aeronaves, inclusive o Columbia. O piloto e dois passageiros morreram.

O voo se iniciou no Aeroporto Albert Whitted, em St. Petersburg, Fla., aproximadamente às 8h00. Três horas depois, o piloto aproximou-se de Mountain Air, um aeroporto privado localizado no topo de um monte de 4.400 pés de altitude nas Blue Ridge Mountains. De acordo com testemunhas, o avião entrou no circuito de tráfego e fez todas as comunicações de rádio devidas. Quando o Columbia entrou na final para a pista 32, entretanto, as testemunhas observaram que o avião vinha mais alto e rápido do que o esperado.

A aeronave tocou a aproximadamente um terço da pista e quicou forte. Em seguida, o Columbia quicou de novo por volta da metade da pista, dessa vez terminando em uma atitude de nariz para cima a 20 ou 30 graus, com os freios aerodinâmicos acionados.

Após o segundo toque, as testemunhas ouviram o motor ser acelerado a toda potência, e viram o avião dirigir-se para a esquerda. Quando a aeronave tomou o rumo de um barranco íngreme do lado esquerdo da pista, ela inclinou-se para a direita, raspando a pista com a ponta da asa direita. Então, após resvalar no barranco, ela voltou rumo à pista, atravessou-a, e foi de encontro a uma fila de aviões estacionados em um pátio a 7,5 metros da borda direita da pista.

O impacto do Columbia com um Cirrus SR22 estacionado causou o disparo do paraquedas balístico deste último, provocando o incêndio do Cirrus. O avião acidentado então foi de encontro a um Cessna 421, iniciando um incêndio ainda maior que rapidamente envolveu os dois aviões.

A investigação do NTSB não encontrou evidências de falhas mecânicas ou mau funcionamento da estrutura ou do motor antecedentes ao impacto. Os investigadores concluíram que o acidente resultou da imprópria recuperação realizada pelo piloto depois de um pouso “quicado”, o que levou à perda de controle direcional e o subsequente impacto com os aviões estacionados.

A recuperação de um pouso “quicado” – principalmente se envolver uma arremetida tardia – pode ser desafiadora em qualquer avião. O problema aumenta nos modernos aviões com estruturas lisas e leves e motores potentes.

Conforme os dados de acidentes analisados no recente relatório especial da AOPA Air Safety Foundation, “Technologically Advanced Aircraft: Safety and Training”, as aeronaves tecnicamente avançadas apresentam mais altas porcentagens de acidentes que o total da frota da aviação geral, tanto nos pousos (53% contra 40%) quanto nas arremetidas (11% contra 4%). O relatório aponta que “as formas mais aerodinâmicas das fuselagens e asas de materiais compostos dos novos projetos de aviões tecnicamente avançados tornam difícil a redução para a velocidade de aproximação desejada, conduzindo à ‘golfinhagem’ durante o arredondamento ou nos pousos longos. Quando se tenta corrigir a situação, ou quando se inicia a arremetida, o torque do motor potente pode levar a problemas de controle direcional”.

Infelizmente, a experiência do piloto do Columbia reflete as conclusões do relatório da AOPA. Idealmente, o piloto acidentado deveria ter iniciado a arremetida muito antes de as rodas terem tocado a pista. Se algum problema acontecer durante a aproximação, principalmente em um aeródromo complicado, é muito melhor fazer outro circuito de tráfego que “forçar a barra” e arriscar-se a varar a pista ou a perder o controle, independentemente do tipo de avião que você esteja pilotando.

Texto original: http://www.aopa.org/asf/epilot_acc/nyc07fa126.html

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