Teto baixando, terreno se elevando: combinação fatal

Em 17/01/2007 um Cessna 182 partiu do Aeroporto de Hunt Field, em Lander, Wyo., às 16h35, cerca de 15 minutos antes do pôr do sol. Pouco antes das 18h00 ele chegou ao Aeroporto Municipal Gillette-Campbell, em Gillette, 167 milhas náuticas ao nordeste. Não há registros de o piloto certificado VFR apenas, com 3.000 horas de voo, ter recebido um briefing meteorológico antes da decolagem, tendo ele feito apenas uma parada rápida antes do retorno. Em 20 minutos ele pegou um passageiro, encheu os tanques e decolou de volta a Lander.

As condições meteorológicas no voo de ida eram VFR, com 10 milhas de visibilidade sob um teto de 9.000 pés com céu encoberto. Mas na volta rumo oeste, as condições estavam ficando feias. Às 18h44, Riverton – cerca de 20 mn a nordeste de Lander, situada na rota de voo – relatava duas milhas de visibilidade com neve leve e, por volta das 19h00, o teto tinha descido para 2.600 pés, com céu nublado. Um METAR especial divulgado às 19h29 reportou 3/4 de milhas de visibilidade, com visibilidade vertical de apenas 800 pés.

Embora ainda prevalecessem condições visuais em Gillette, parece que o piloto teve problemas para se orientar. Os dados de sua trilha de voo, recuperados do seu GPS portátil, mostravam uma série de curvas pouco depois da decolagem – uma proa inicial do norte para sudoeste, então para sudeste, de volta para sudoeste, então 180 graus para nordeste – antes de começar a seguir a rodovia estadual 59 rumo ao sul. Depois de acompanhar a rodovia por 10 milhas, ele virou para a direita e voou rumo sudoeste sobre uma região com população esparsa.

De acordo com seus familiares, o piloto voava pelo Wyoming desde o início dos anos 80 e conhecia bem aquela rota. O terreno se eleva a oeste: no espaço de 30 milhas entre Rattlesnake Hills e o flanco sul das Big Horn Mountais, a elevação da base chega perto dos 6.000 pés, com o topo dos montes atingindo 7.314 pés. O Cessna 182 voou em direção a essa área em altitudes entre 6.800 e 7.300 pés.

Com o teto baixando, a visibilidade diminuindo e o terreno se elevando, o piloto colidiu contra o solo a uma altitude de 6.500 pés. Um alerta foi emitido na manhã seguinte e, cerca de três horas depois, a Patrulha Aérea Civil localizou os destroços aproximadamente 45 mn a leste de Riverton. A aeronave tinha atingido o terreno ondulado e coberto de neve em uma atitude de asas niveladas, impactando primeiro o trem de pouso dianteiro e, em seguida, a ponta da asa direita. O piloto e o passageiros foram feridos fatalmente.

Os destroços principais foram parar a cerca de 100 metros do primeiro ponto de impacto, enquanto que o motor foi encontrado cerca de 70 metros depois. O NTSB divulgou que “A fuselagem e a cabine foram destruídos”. Os cintos de segurança de ombro não tinham sido usados.

Os dados do GPS do piloto mostraram que durante os últimos dois minutos do voo o avião manteve velocidade e direção relativamente constantes, mas desceu continuamente da altitude de 7.016 pés para 6.455 pés. A elevação do terreno no local do acidente era de cerca de 6.500 pés. No momento do acidente, as condições meteorológicas no local incluíam ventos de altitude, neve e pouca visibilidade, o que tornava mais difícil a manutenção do contato visual com a paisagem coberta de neve. O NTSB mencionou o inadequado planejamento pré-voo por parte do piloto como fator contribuinte para a sua decisão fatal de continuar voando para oeste depois de perder as referências visuais.

Não ficar sabendo de más notícias pode ser benéfico em outros aspectos da vida, mas, no ar, aquilo que você não tomou conhecimento pode matá-lo. A meteorologia é particularmente mutável, e muda rapidamente. Vale a pena gastar alguns minutos extras entre as pernas da sua rota para ver se as coisas ainda estão conforme planejado, bem como decidir o que fazer quando não estão.

Texto original: http://www.aopa.org/asf/epilot_acc/den07fa053.html

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